quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Castidade


A castidade até o casamento é um belo exercício de autodomínio e para o jovem ?

Recebi um e-mail, muito delicado e respeitoso, mas que me deixou muito intrigado e preocupado. Uma jovem de 22 anos me dizia que depois de um namoro de um pouco mais de um ano, começou a ter vida sexual com o namorado, porque pretende se casar com ele. Ela e o namorado são envolvidos na Igreja, e disse que sabem o que é o certo e o errado, que são catequistas e participantes de grupo de jovens.
Ela procurou justificar as vezes em que realizou o ato sexual com o namorado dizendo que foi de maneira consciente, sem a intenção de discordar da Igreja e sem a intenção de ofender a Cristo; e que fizeram isso de maneira espontânea e desejada, porque se amam muito, e que fizeram tudo com respeito e sem pressão. Depois do ato sexual – ela afirmou – assumimos o compromisso um com o outro de sermos um do outro. E, então, ela pergunta: é pecado?
Penso que muitos outros jovens na Igreja possam estar com esse mesmo pensamento errado; por isso estou escrevendo essa matéria. Na Encíclica “Veritatis Splendor” e em outros documentos pontifícios, o saudoso Papa João Paulo II, bem como Bento XVI, têm falado insistentemente sobre o perigo do relativismo moral e religioso, que consiste em cada um querer fazer a “sua” religião e a “sua” moral, e não obedecer mais ao que ensina o Magistério da Igreja. Isso destruiria a fé e a moral católica que Jesus nos deixou para nossa salvação. Cristo confiou à Igreja a missão de cuidar daquilo que São Paulo chamava de “sã doutrina da fé” ou “depósito da fé” (cf. Tito 1,9; 1Timóteo 1, 10).
Quando aprovou e apresentou o Catecismo para a Igreja, o Papa João Paulo II declarou: “Guardar o depósito da fé é a missão que o Senhor confiou à Igreja e que ela cumpre em todos os tempos” (“Fidei Depositum”). A instituição criada por Cristo precisou fazer 21 Concílios universais nestes dois mil anos de história, para impedir que as heresias e os relativismos esfacelassem a doutrina da salvação que Cristo nos deixou. Muitas vezes, ela teve de enfrentar cismas, martírios e perseguições para manter intacta a doutrina da salvação.
Jesus confiou aos Apóstolos (nossos bispos hoje) a missão de ensinar em Seu Nome e com Sua Autoridade; ninguém mais. Ele lhes disse: “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos rejeita a mim rejeita, quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou” (Lc 10,16). E os enviou ao mundo a pregar o Evangelho. “Ide, pois, ensinai a todas as nações...” (Mt 28,19). E, na Última Ceia, Cristo prometeu a eles que o Espírito Santo os assistiria e guiaria para que ensinassem “toda a verdade”. “Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não estais preparados para ouvir agora; mas quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (João 16, 12-13). São Paulo disse a Timóteo que “a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (1Tm 3, 15).
Portanto, a Igreja ensina “toda a verdade” que nos conduz ao céu; e o bom católico jamais pode duvidar disso ou viver diferente disso, mesmo que encontre por si mesmo as melhores justificativas para agir diferente. Seria mergulhar no relativismo religioso, coisa que fizeram muitos hereges e dissidentes da Igreja.
O ensinamento claro da Igreja é que a vida sexual só deve ser vivida no casamento, no qual o casal tem condições de realizar a dupla finalidade do sexo: unitiva e procriativa. No namoro e no noivado o casal ainda não está unido oficialmente nem diante de Deus nem diante dos homens; então, não há como viver o aspecto unitivo plenamente. O ato sexual é o selo desse compromisso e união definitiva, assumida publicamente. Qual é a certeza que um casal de namorados tem de que vão se casar? E mesmo os noivos? Quantos noivados já se dissolveram!
Por outro lado, o sexo é procriativo, e não é moral, ensina a Igreja, impedir por meio artificial a concepção (camisinha, DIU, pílula, etc.); e é claro que o casal que começa a viver a vida sexual no namoro terá de apelar para esses métodos, egoisticamente, de modo a evitar a gravidez e gozar apenas do prazer sexual. Ora, isso é contra a lei de Deus. O ato sexual deve estar aberto à vida; e no namoro e noivado isso ainda não é possível. Não há uma estrutura para se receber o filho, fruto do amor conjugal celebrado no ato sexual.
Ora, se o ato sexual gera a vida de um novo ser humano, este precisa ser acolhido em um lar pelos seus pais. É um direito da criança que vem a este mundo. Nem o namoro nem o noivado oferecem ainda uma família sólida e estável para o filho. Não existe ainda um compromisso “ até que a morte os separe”.
O Catecismo ensina com clareza a doutrina de Cristo:
§2363 – “Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimônio: o bem dos cônjuges e a transmissão da vida. Esses dois significados ou valores do casamento não podem ser separados sem alterar a vida espiritual do casal e sem comprometer os bens matrimoniais e o futuro da família. Assim, o amor conjugal entre o homem e a mulher atende à dupla exigência da fidelidade e da fecundidade”.
§2390 – “O ato sexual deve ocorrer exclusivamente no casamento; fora dele, é sempre um pecado grave e exclui da comunhão sacramental”.
§2391 – “A união carnal não é moralmente legítima, a não ser quando se instaura uma comunidade de vida definitiva entre o homem e a mulher. O amor humano não tolera a "experiência". Ele exige urna doação total e definitiva das pessoas entre si”.
§ 2350 – “Os noivos são convidados a viver a castidade na continência. Nessa provação eles verão uma descoberta do respeito mútuo, urna aprendizagem da fidelidade e da esperança de se receberem ambos da parte de Deus. Reservarão para o tempo do casamento as manifestações de ternura específicas do amor conjugal. Ajudar-se-ão mutuamente a crescer na castidade”.
Se Deus nos dá uma lei, o faz é por amor, não por maldade. E ninguém pode nos dar uma lei melhor do que o Senhor, pois ninguém é mais sábio, santo, douto, e nos ama como Ele. Então, passar por cima da lei de Deus, com nossas pobres justificativas, seria grande ofensa, pecado.
No plano de Deus a vida sexual só tem lugar no casamento. São Paulo, há dois mil anos, já ensinava aos Coríntios: “A mulher não pode dispor do seu corpo: ele pertence ao seu marido. E também o marido não pode dispor do seu corpo: ele pertence à sua esposa” (1 Cor 7,4). O grande Apóstolo não diz que o corpo da namorada pertence ao namorado, nem que o corpo da noiva pertence ao noivo.
Além do mais, a castidade até o casamento é um belo exercício de autodomínio para o jovem; uma garantia de fidelidade depois do casamento. Mahatma Gandhi, célebre indiano hindu, que não era católico, libertou a Índia da Inglaterra pela força da não-violência, dizia: “A castidade não é uma cultura de estufa (…). A castidade é uma das maiores disciplinas, sem a qual a mente não pode alcançar a firmeza necessária”. E “A vida sem castidade parece-me vazia e animalesca”. Salientando que “Um homem entregue aos prazeres perde o seu vigor, torna-se efeminado e vive cheio de medo. A mente daquele que segue as paixões baixas é incapaz de qualquer grande esforço

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